segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Entrevista com Jaime Arôxa

Transcrição da entrevista com Jaime Arôxa, realizada dia 05/08/08, e base da matéria publicada na edição nº 11 (setembro) do Jornal Falando de Dança, que pode ser acessada AQUI.



Idade, naturalidade, quando veio para o Rio
Natural de Recife, 47 anos, vim para o Rio na década de 80.

Começou a trabalhar em que?
Meu primeiro trabalho foi numa gráfica, mas exerci várias atividades até tornar-me professor de dança de salão.

Como conheceu a dança de salão?
Já dançava em Recife, mas foi freqüentando as noites cariocas que conheci a dança de salão, tendo como primeira professora Maria Antonietta, com quem fiz diversas apresentações.

Quem eram os cobras da época e os locais mais badalados?
Waldir Matos, Russo, Trajano, Yedda Cardoso, Maria Antonietta, Esquerdinha, eram os feras da época (não cheguei a conhecer Mário Jorge nas pistas). Os bailes mais badalados eram os do Asa Branca, do Sírio, do Internacional (no Aterro do Flamengo), da AABB e os do Bonsucesso e os bailes organizados por Aníbal e Elza, o Casal 20, como eram conhecidos, que foram os maiores promotores de bailes da época.

Qual a banda mais famosa na época?
Havia as orquestras comandadas pelos maestros Carioca e Cipó. Dentre as bandas, as mais famosas eram Os Devaneios, Copa 7 e Aeroporto.

Que ritmo se dançava mais na época?
Predominantemente o samba de gafieira.

Auto-didata (como os antigos) ou teve mestres de dança (quais)?
Já sabia dançar a dois desde Recife mas na dança de salão tive como mestre Maria Antonietta.

Quando começou a dar aulas, onde?
Não demorou muito, logo após me iniciar na dança de salão começei dando aulas particulares, individuais e depois – uma inovação na época – em grupo. Depois abri, com outros sócios, sucessivamente, a Academia Chiquinha Gonzaga, a Academia Maria Antonietta e, por fim, a academia que leva meu nome.

Pode descrever que metodologia de ensino introduziu na dança de salão?
Antes as pessoas que queriam aprender academicamente tinham aulas particulares com professores de dança. A inovação foi desenvolver uma metodologia de ensino que permitisse se ensinar para um maior número de alunos simultaneamente (cheguei a ter mais de 100 em sala de aula), com formação de pares entre eles e não aluno(a) com professor(a). Outra inovação foi a introdução da figura do bolsista, para permitir a matrícula de damas que não dispunham de parceiros de dança. Também passei a estimular a expressão dos sentimentos através da dança, a consciência corporal, a musicalidade, dentre outros itens.

Recentemente você voltou para o seu antigo endereço, vai manter os dois espaços, haverá uma diferença entre eles?
Sim, a intenção é manter no nº 44 a parte de aulas, hoje com mais de mil alunos. No nº 155, mais espaçoso, ficam a administração e a sede da cia de dança, além da utilização das amplas salas para ensaios, montagem de shows e cursos específicos, como o atual, de formação de professores e o show que vamos montar para Las Vegas.

Tem Jaime Arôxa em todos os estados do país?
Eu diria que sim, praticamente em todos os estados, não através de filiais, mas através de metodologia de ensino, assimilada por professores e ex-alunos que fundaram suas próprias academias em outros estados. Muitos vêm aqui com freqüência, para atualização.

Você está lançando um curso de formação de professores, ele é semelhante ao curso superior tecnológico em danças de salão da Estácio?
Ele é um curso focado na prática. Na verdade, dou cursos para professores há dez anos, mas este é o primeiro de teor mais amplo, com duração de um ano. Além das aulas de dança, há palestras, laboratório, aulas de psicologia, de inglês, de português, oratória, liderança, administração. Não é oficial, mas o mercado reconhece o valor de quem faz meus cursos de especialização. Este curso de duração de um ano começou em agosto com 50 alunos, pouquíssimos do Rio, infelizmente. A grande maioria veio de outros estados para se aperfeiçoar. Muitos deixaram suas próprias academias de dança com administradores, para vir aqui fazer o curso. Eles sabem que o curso irá valorizar seu currículo. Esperamos com o tempo ter o reconhecimento do MEC e o credenciamento para fornecer diplomas.

Que ritmo atrai mais os jovens e por quê, na sua opinião?
Sem dúvida, zouk, salsa e forró. Mas meu público alvo não são os jovens, mas a pessoa em geral, dos 14 aos 70 anos. Eu não estimulo essa diferenciação, essa segregação. O que há aqui é uma integração, a idéia de que somos todos iguais, apenas nascemos em momentos diferentes. Cada um contribui de uma forma, os jovens com sua energia, os mais velhos com sua experiência.

Em 27 anos de dança, o que mais lhe chama a atenção como mudança de comportamento e/ou de movimentos na pista?
Muita coisa mudou. Eu influenciei durante muito tempo, depois me concentrei na minha área de atuação, me desgarrei da moda. Eu sigo a minha pista, meu baile não é igual e nem quero que seja igual aos outros bailes.

Mas isso não é uma forma de isolamento?
Eu prefiro estar isolado, mas feliz, do que enfrentar esse horror aí fora. Eu acho que a violência está grande, as pessoas não se entendem. Eu não quero pertencer a esse mundo, eu quero fugir dele. Eu quero criar um mundo melhor para mim e para meus alunos. Se isso é isolamento, infelizmente eu vou ter que fazer isso. Mas as portas estão abertas para quem quiser participar do nosso mundo. Eu não quero copiar modelos que apenas são modernos. Não estou interessado na modernidade, mas nos valores que considero corretos. A modernidade tem coisas interessantes, mas eu não estou cego pela modernidade. Não estou sendo manipulado. Eu tenho uma escola com mais de mil pessoas ao meu redor, sou formador de opinião. Meu foco é minha linha de trabalho e as pessoas que gostam dessa linha acabam por se adequar à ela.

O International Dancesport Federation está negociando com o Comitê Olímpico Internacional a inclusão da dancesport nos jogos de Londres (a dancesport em cadeiras de rodas já está aprovada e já temos competidores brasileiros treinado para isso). Você já teve um projeto de treinar competidores para uma eventual inclusão nas Olimpíadas, não foi? Pode falar a respeito?
Isso foi quando se começou a falar a respeito de levar a dança para as Olimpíadas, eu comecei a desenvolver um projeto a respeito, mas abandonei no meio do caminho. Acabei por usar o ballroom dance para desenvolver a dança de salão aqui. Mas na verdade eu sou contra competições de dança.

Mas você não acha que a competição estimula o aperfeiçoamento técnico?
Eu acho que aperfeiçoa as intrigas, a concorrência e as rivalidades. O que estimula a pessoa a aperfeiçoar sua técnica é o desejo de vencer seus próprios limites e não vencer o outro. Eu não quero melhorar para ser melhor que o outro. Eu quero melhorar para ser melhor que mim mesmo. Eu quero me superar. Porque se eu quiser superar alguém, algum dia eu vou ser superado e isso será uma frustração para mim. A idade chega e você não vai ser campeão a vida inteira. Qual o futuro do campeão de salsa do ano passado? Ser o ex-campeão de salsa deste ano. Ou tentar tornar-se campeão novamente. Ele não vai ter tempo de dar aula, só vai ficar treinando para ser campeão novamente. Sua vida será tão curta como a vida de uma misse. Ele vai nos congressos desfilar como uma misse, seu reinado será por um ano. Além disso, os concursos são injustos, mesmo na dancesport há política, isso é próprio do ser humano. O ser humano não leva em consideração as regras que ele mesmo cria, principalmente se tem um amigo na competição. Agora, no caso de uma Olimpíada, é diferente.

Por que?
Numa Olimpíada você fica exposto à uma platéia de 24 bilhões de pessoas, é uma competição de altíssimo nível, com regras seculares. Só em estar lá já é um grande status e extrapola essas competições bairristas. Porque eu te digo: um dos grandes problemas da dança são as competições. A dança de salão fracassou nos grandes países onde há competições. Na Europa, a dança enquanto baile - social, ritualística -, fracassou porque os professores levaram para as salas de aulas os critérios da dança competitiva, fabricando um monte de robozinhos e afugentando as pessoas de idade ou aquelas que não tinham interesse em competir.

Então, se houver competição de dança nas Olimpíadas haverá uma turma especializada em sua academia?
Se houver procura e se economicamente for interessante, com a possibilidade de se ter muita fama, valerá a pena retomar meu antigo projeto. Mas para isso terei que me formar primeiro.

Mas você tem professores especializados em dancesport, não?
Especializado é um nome muito forte. Temos pessoas interessadas, como o professor Paulo Sérgio, que tem conhecimento de ballroom dance. Especializado é aquele treinador europeu, que formou campeões.

2 comentários:

Anônimo disse...

Concordo quando o Jaime fala que a dança competitiva cria inimizades, intrigas por que onde moro a dança de salão está começando a fluir e dou aula para uma instituição social e um turno e outro professor em turno oposto e trabalho com a metodologia de dança de salão social para unir as pessoas relaxalas depois de um longo dia de trabalho mas percebo que o outro professor compete causando aborrecimentos entre a minha turma e a dele, e olha que são todos iniciantes.

Carlinhos Araújo disse...

Creio que a dança de competição tem suas vantagens e desvantagens.
Muitos dos profissioanis de dança de salão começaram participando de concursos de dança. Nos EUA há um programa de Dança de Salão nas escolas Públicas e ele só deu resultado quando os alunos começaram a participar das compétições de dança. Creio que a competição estimula muito o jovem a participar. Creio que se houvese campeonatos no brasil teríamos mais jovens na dança de salão.

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